26.08.05
Mulheres de língua portuguesa pretendem se fazer ouvir na Assembléia do CMI
Fotos gratuitas disponíveis, ver abaixo
Chega de violência! Esse é o grito que as mulheres de língua portuguesa querem fazer escutar na próxima Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). "Violência é pecado, e Deus nos chama à salvação", dizem.
Reunidas de 11 a 15 de agosto em São Leopoldo, Brasil, cerca de 50 mulheres provenientes de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal deliberaram em preparação para a nona Assembléia do CMI, a realizar-se em Porto Alegre, em fevereiro de 2006.
O idioma não foi o único denominador comum no encontro, que reuniu católicas romanas, metodistas, presbiterianas, luteranas, reformadas e anglicanas. As participantes descobriram que também compartilhavam realidades marcadas pela violência.
"A violência contra as mulheres, seja física, sexual, psicológica, econômica ou espiritual, é uma realidade em nossas igrejas e países", afirmam em sua mensagem às igrejas, emitida ao final do encontro, na qual refletem sobre a ação da graça de Deus na vida das mulheres.
"As mulheres africanas estão de coração partido", disse a teóloga Invicta Tivane, ao falar da violência física e psicológica que faz parte da vida cotidiana das mulheres de Moçambique. "Infelizmente, em nossa cultura ainda existe a crença de que o marido precisa bater na mulher para demonstrar seu amor", explicou.
"Mas o poder está concentrado nas mãos dos homens", acrescentou a pastora Paulina Makumbu, de Angola. "Há mulheres africanas com educação, mas sem trabalho, com trabalho, mas ganhando pouco, com marido, mas sofrendo discriminações", disse ela. Makumbu espera que a Assembléia seja uma oportunidade para "gritar" pelos direitos das mulheres.
Rosa María Cruz Ángela, de Portugal, sentiu-se comovida com as denúncias ouvidas e com a coragem das participantes. Apesar de pertencer ao chamado primeiro mundo, disse, também em seu país a mulher é vítima da violência. "Na igreja, somos respeitadas, mas na sociedade, nem sempre. Muitas portuguesas precisam se prostituir, ou sofrem violência doméstica, sexual ou psicológica, e também são discriminadas", afirmou.
<span style="font-weight: bold; "» Um dom divino que deve ser restaurado
A mensagem das mulheres de língua portuguesa alerta: "Compreendemos que a sexualidade é um dom de Deus que nos humaniza. Contudo, tem sido apropirada por modelos econômicos e culturais que produzem o tráfico sexual de meninas e a disseminação de HIV-AIDS, desumanizando assim, em particular, mulheres e meninas en todo o mundo".
As participantes do encontro se comprometeram a denunciar essa realidade e a trabalhar em ações preventivas, em busca de estratégias de luta contra a exploração sexual e a propagação do HIV-AIDS.
A coordenadora nacional do círculo ecumênico de teólogas de Angola, Eva Sebastião Cosme, disse que, em seu país, a população está desinformada sobre o risco que corre de se infectar com o HIV-AIDS. Por isso, as igrejas criaram redes ecumênicas para trabalhos de conscientização, acrescentou.
Em Moçambique, estima-se que uma em cada dez pessoas esteja contaminada pelo vírus. Em meu país, disse Tivane, há um mito de que um homem soropositivo, ao manter relações sexuais com uma mulher virgem, fica curado. "O patriarcado cria mitos para justificar atitudes que lhe convêm", afirmou.
Em sua mensagem, as mulheres de língua portuguesa instam as igrejas a participar unidas da Assembléia do Conselho e assumir o compromisso de "trabalhar concretamente na mudança da realidade das mulheres e meninas, como sinal da graça transformadora de Deus".
O encontro "afiou a língua das mulheres", avaliou a teóloga brasileira Elaine Neuenfeldt, uma das assessoras do evento. E serviu, também, para preparar as estratégias de participação das mulheres na Assembléia, onde um espaço especial - "A Colméia" - acolherá suas inquietudes.
Fotos em alta resolução para ilustrar este artigo estão disponíveis gratuitamente, no site da Assembléia:
www.wcc-assembly.info